sexta-feira, 6 de julho de 2012

A MÁFIA DA MORTE

Para viver é preciso sorte,
Sorte ao menos favorecido
Que tem de ficar escondido,
Foragido da máfia da morte.
Sem haver quem o conforte
Num universo tão absorto,
Se não “nascer de um aborto”,
O infeliz do pobre cidadão
Tem de comprar uma certidão
Para mostrar que estar morto.

A morte está dando lucro:
Do assassinato ao velório,
Da delegacia ao cartório,
Da igreja ao sepulcro.

Já se tornaram paixões
As mortes por encomenda
Para aumentar a renda
Dos fabricantes de caixões.
Fazendo-se tais reflexões
Neste mesmo itinerário
Vem o lojista e o vigário
Discutir com o pistoleiro,
Com o legista e o coveiro
O aumento do “salário”.

A morte está dando lucro:
Do assassinato ao velório,
Da delegacia ao cartório,
Da igreja ao sepulcro.

O “erro médico” é praticado
Para dar oportunidade
Aos urubus da cidade,
Membros do crime organizado.
Com tudo sendo justificado
Na captação do capital
Viver assim é tão letal
Quanto possa parecer,
O paciente vem a perecer
Numa fila de hospital. 

A morte está dando lucro:
Do assassinato ao velório,
Da delegacia ao cartório,
Da igreja ao sepulcro.

Urubusservando o cliente
Do trágico acontecimento,
Se não houver o pagamento,
É sepultado como indigente.
Gente morre, e mata gente
Como agentes dessa cultura
Ainda vem a floricultura
Usurpar o resto da grana,
Além da celebração profana
No complemento da fatura.

A morte está dando lucro:
Do assassinato ao velório,
Da delegacia ao cartório,
Da igreja ao sepulcro.

Em defesa dos estelionatos,
Criaram o Dia de Finados
Para os mortos serem lembrados,
E continuarem os assaltos.
Manipuladores são os relatos
Dos oportunistas da “ativa”
Nesta data comemorativa
O que se festeja, inclusive,
É o futuro de quem vive:
A morte, individual ou coletiva.

A morte está dando lucro:
Do assassinato ao velório,
Da delegacia ao cartório,
Da igreja ao sepulcro.

Acontecendo uma chacina,
Todo o setor comercial
Burla o inquérito policial
Com o pagamento de propina.
E enquanto não se defina
A filosofia que se está pensando
Os bandidos estão matando
Jovens, crianças e adolescentes
Por meio dos entorpecentes
E das armas do contrabando.

A morte está dando lucro:
Do assassinato ao velório,
Da delegacia ao cartório,
Da igreja ao sepulcro.

A violência vai rondando
As entranhas das favelas
E os fabricantes de velas
Continuam festejando.
Com os religiosos adorando
Ao Deus que nunca falha,
Vive-se no gume da navalha,
Na cidade dos mortos-vivos,
Dando lucros excessivos
Aos produtores de mortalha.

A morte está dando lucro:
Do assassinato ao velório,
Da delegacia ao cartório,
Da igreja ao sepulcro.

Olha, o advogado observa
E incentiva a matança
Para repartir a herança
Com o resto da caterva.
Não existe voto de minerva
De desumanos aproveitadores
Os juízes e os promotores
É que promovem a violência,
Usando sua larga experiência
Na contratação dos matadores.

A morte está dando lucro:
Do assassinato ao velório,
Da delegacia ao cartório,
Da igreja ao sepulcro.

A violência é o combustível
Da insegurança nacional,
E as notícias no jornal
Tornam-se algo imprescindível.
O que há de mais incrível
Na vida que o destino tramou:
O povo já se acostumou
A ver o sangue pela calçada
E a ficar de boca fechada,
Sem dizer quem o derramou.

A morte está dando lucro:
Do assassinato ao velório,
Da delegacia ao cartório,
Da igreja ao sepulcro.

Conforme os “ósseos do oficio”,
É antagônica a premissa:
O pobre é sepultado sem missa,
O rico é venerado num comício.
Desde os dissabores do início,
O pobre é finito e o rico é eterno,
É neste sistema moderno,
Sem haver quaisquer ressalvas,
Onde poucas almas são salvas
E muitas já estão no inferno.

A morte está dando lucro:
Do assassinato ao velório,
Da delegacia ao cartório,
Da igreja ao sepulcro.

Já se chegou ao crimatério
E não se pode fazer menos
Na compra de terrenos
Na periferia do cemitério.
Com essas teses do mistério
No preceito forreta e antropófago
Até mesmo no sarcófago,
Não se consegue ter paz.
Enquanto a matéria se desfaz,
É consumida pelo necrófago.

A morte está dando lucro:
Do assassinato ao velório,
Da delegacia ao cartório,
Da igreja ao sepulcro.

Pessoas apelam para o Papa,
Para tentar se proteger.
Mas, não há o que se fazer:
Da morte ninguém escapa.
Não se pula essa etapa
De prelazia e sacanagem
Religião é uma bobagem,
É um negócio qualquer
Que a máfia da morte requer
Para continuar a tramenhagem.

A morte está dando lucro:
Do assassinato ao velório,
Da delegacia ao cartório,
Da igreja ao sepulcro.

Há reuniões de emergência
Com a cúpula da igreja,
Somente para que seja
Cobrada a tal indulgência.
Avulta-se quem tem fulgência
E não o pobre diabo fuleiro
Só é salvo quem tem dinheiro,
Isto a igreja vem rezando;
Quem não tem fica vagando
Como espírito zombeteiro.

A morte está dando lucro:
Do assassinato ao velório,
Da delegacia ao cartório,
Da igreja ao sepulcro.

Nossa vida é consumida
Somente pela ganância,
Prepotência e arrogância
De quem é ladrão da vida
Ocasião devidamente indevida
Devido ao indevido presságio
Depois de todo este estágio
De carnificina e exploração,
Se Jesus é o caminho da salvação,
Estão cobrando o seu pedágio.

A morte está dando lucro:
Do assassinato ao velório,
Da delegacia ao cartório,
Da igreja ao sepulcro.

Autor: Abel Alves

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