quarta-feira, 31 de outubro de 2012

ANÁTEMA

Condicionaram-me à vítima

Dos labéus homens humanos

Para ser cobaia dos planos

De uma misantropia legítima.

Meu anátema era perspícuo

Por eu não integrar a súcia

Estroinada pela astúcia

De um conluio promiscuo.

 

Condenaram-me à prisão

Por um crime não praticado

E passei a ser considerado

O maior bandido da região

Quando eu saí da cadeia,

Não podia andar na cidade

Pois toda a sociedade

Entrava comigo na peia.

 

Por causa da prolixa inópia,

Da mais altíssima indigência,

Eu teria que usar a inteligência

Em prol da imagem própria.

Mas, difícil era a saída

Daquela miséria extrema

E, para enfrentar o problema,

Eu teria que mudar de vida.

 

Como era o Ano Internacional

De Combate ao Analfabetismo,

Para fugir do “cataclismo”,

Aspirava ser mais social.

Eu era apenas autodidata,

Sem nunca ter ido à escola

Mas, a minha vontade pachola

Divergia da matula plutocrata.

 

Decidi dá os primeiros passos

Nesta minha trajetória,

Protagonizando a história

De vitórias e fracassos.

Então,  minha vida estudantil,

A mais humilde e honrosa,

Teve proêmio na noite chuvosa

Do venturoso dia 02 de abril

 

Na Escola “Francisco de Sá Cavalcante”

Onde aprendi a ler e a escrever

Sempre cumprindo com o dever

Do mais exemplar estudante.

Apesar da situação horrenda

Na qual eu me encontrava

Quando eu só me alimentava

Se na escola tivesse merenda.

 

Terminei o Ensino Fundamental

Por meio de um Supletivo

Pois eu era muito ativo

Quanto à questão educacional. 

O Ensino Médio foi concluído

Com muitíssima dedicação

Já que a minha pretensão

Era de ser bem instruído.

 

Obstado de fazer o vestibular

No território estadual,

Voltei à Escola Paroquial

Na tentativa de estudar. 

E, como adversário político,

Eu não fui matriculado

Só para que fosse castrado

O meu pensamento crítico.

 

Os prosélitos da Paraíba

Não me atendiam à lamúria,

Provocando-me a fúria

E repulsa a pindaíba. 

Tudo era soez e invectiva

Contra o meu sonho volível,

Egrégio e indefectível

De conseqüência lenitiva.

 

O Ministério da Educação

Dessa feita ficou sabendo

Do que estava acontecendo

Concernente à discriminação. 

Trataram-me com preconceito

Porque fui tão premente

E fui preso novamente

Por exigir o meu direito.

 

Mas, descobri a importância

Do meu destino obscuro

Em busca do meu futuro

Com simplória jactância. 

Pois a  máfia contemporânea

Aproveita-se da miséria

De cada pessoa séria

E de humildade espontânea.

 

Hoje eu sou tido à margem

Da sociedade corrompida,

De mentalidade prostituída

Que denigre a minha imagem.

Amanhã será a minha vez

De aludir à renúncia

Causada pela denúncia

Que o meu anátema fez. 

 

Autor: Abel Alves

 

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