Incrédulos e abalados, os pais de
Anna Carolina Veiga Martins, de 14 anos, buscam uma explicação plausível para a
tragédia que se abateu sobre a família no último dia 21, quando a adolescente,
filha única, foi declarada morta, após passar 16 horas no CTI do Hospital
Icaraí, em Niterói. Anna Carolina, que sonhava ser médica, dera entrada na
unidade dois dias antes para uma cirurgia eletiva, de retirada de um cisto do
ovário, descoberto um ano atrás. A família acusa o hospital de negligência.
Segundo a mãe da menina, Patrícia
Martins, quando a família chegou ao hospital para a cirurgia, na manhã do dia
19, o quadro era de tranquilidade:
— Minha filha chegou andando e
feliz. Afinal, nem haveria corte, apenas três pequenos furinhos. A indicação
era de uma cirurgia de apenas 30 minutos.
Anna entrou no centro cirúrgico
às 17h e voltou ao quarto às 19h. Para surpresa da família, ela tomara
anestesia geral, mas, mesmo sonolenta, já conseguia se comunicar com a família
e reclamou de ardência na garganta.
— Falei para ela que havia sido
entubada e, por isso, o incômodo. Mas, fiquei surpresa com a anestesia geral.
Não esperava por isso. Cheguei a comentar que não teria deixado, se soubesse.
Hoje, não se usa nem em cesárias — disse Patrícia, acrescentando que a filha
começou a passar mal após uma enfermeira ter dado um medicamento, por via
venosa, cerca de uma hora depois.
— Ela disse que era dipirona.
Algum tempo depois, minha filha adormeceu profundamente e passou a fazer
barulhos estranhos vindos dos pulmões e a aparentar falta de ar, o que foi
piorando. Chamei as enfermeiras três vezes, mas disseram ser normal, por causa
da anestesia — acrescenta.
Ainda de acordo com a mãe, Anna
expelia secreção, com vestígios de sangue, pela boca e pelo nariz e a falta de
ar piorava. Apesar de ter chamado as enfermeiras às 23h, por volta das 2h e
novamente no fim da madrugada, apenas na terceira vez as enfermeiras,
finalmente, chamaram médicos ao quarto. Pouco depois, a menina teve uma parada
cardíaca.
— Eu vi que a dificuldade de
respiração só piorava e a minha filha não acordava e se debatia na cama. Como
alguém se recuperando bem poderia estar daquela forma? Desde as 23h, pedi
ajuda, mas os médicos chegaram por volta das 6h. Uma médica chegou a perguntar
às enfermeiras “por que não tinha sido chamada antes”. O peito da minha filha
fazia barulho como se estivesse cheio de água — relembra a mãe da jovem.
Após ser reanimada no quarto,
Anna foi levada para o CTI, onde teve outra parada cardíaca.
Quando foi ver a filha no CTI,
Patrícia reparou num saco com sangue ao lado do leito. Um médico teria dito que
havia sido retirado dos pulmões da jovem. Indignada, a família reclama não ter
recebido explicação do hospital para o que ocorreu com a adolescente.
— Simplesmente, o hospital não me
explicou o que aconteceu com minha filha, que chegou andando e saiu morta
direto para o IML. Quando pedimos o boletim médico, o hospital nos mandou
procurar um advogado para termos acesso a ele. Além disso, o atestado que nos
deram não esclarece a causa da morte — acrescenta Patrícia, que já pagava pela
festa de 15 anos da filha única, em junho de 2013.
Querida pelos colegas de turma do
Colégio Jean Piaget, em São Gonçalo, onde cursava o 9º do Ensino Fundamental,
Anna foi enterrada com a presença de cerca de 500 pessoas, entre estudantes e
amigos da família, que morava no município. O colégio ficou fechado por dois
dias em sinal de luto.
Procurado pelo Jornal O GLOBO, o
Hospital Icaraí limitou-se a emitir uma nota curta sobre a morte da jovem: “A
paciente internou-se nesse nosocômio para um procedimento de forma eletiva,
devidamente encaminhada por seu médico assistente, sendo certo que toda
assistência multidisciplinar foi dada. A causa mortis está sendo apurada.”
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