quarta-feira, 30 de maio de 2012

UMA SURRA À LÁ TAMANCADAS E OUTROS ARTIFÍCIOS


As formalidades, boa educação, conduta social exemplar, cavalheirismo, respeito à vida devem ser observadas, também perante às altas autoridades, em consideração ao esforço que cada ser humano empreende para trilhar um caminho e chegar ao seu objetivo, resguardadas as exceções.
         Destarte, há duas formas distintas de um poeta, condutor do veículo dos sentimentos, saber se o seu trabalho que o caracteriza como tal está causando impacto, fazendo sucesso, despertando emoções: se ele provocar as lágrimas do seu interlocutor e se ele apanhar em plena praça pública, quase chegando a ser linchado. No meu caso, autor de um insulto à verdadeira arte que se expressa pela palavra escrita e oral que está mais para uma gonorréia literária do que para uma poesia, chamado de “O Gângster de Sotaina”, foi em plena praça pública da minha terra natal, Paulista, no dia 26 de agosto de 2000, que atingi o auge do sucesso, digo, quase fui linchado, vítima de uma surra à lá tamancadas e outros artifícios.
         Como dizem por aí, que “em mulher não se bate nem com uma flor”, eu não fugi à regra. Mas, não fugi, em primeiro lugar, em respeito ao cargo que ela exercia: ela era vice-prefeita da cidade de Paulista; em segundo lugar, à época, ela deveria está com o dobro do meu tamanho, obstruindo a minha rota de fuga e, principalmente, em terceiro lugar, as minhas covardes pernas não me obedeceram: começaram a tremular quando senti uma coisa quente escorrendo até o calcanhar, e eu não consegui correr para fugir do ângulo de visão daquela mulher sedenta por me quebrar no cacete.
         Eu não era muito “católico” e sim “protestante”, mas, naquela hora, pedi proteção a todos os santos existentes no imaginário humano e ainda inventei alguns para que entendessem o meu pedido de socorro. De nada adiantou. Sem voz e sem palavras persuasivas, ainda tentei dialogar por meio de gestos e mímicas, mas a minha alma quis sair pela boca e a mulher não queria papo. A mulher trocou o papo pelo sopapo e, nas preliminares, ela me deu uma patada em cima da orelha esquerda que, além de ter-me deixado com um problema crônico de audição, também me afrouxou todos os dentes da boca de uma só vez.
         Em meio aquele massacre cruento-poético, ainda meio grogue da primeira investida, consegui pronunciar três palavras convictas: “Eu vou morrer”! A mulher me atacava pela direita, pela esquerda, por baixo, por cima; com chutes, patadas, socos, pontapés, unhadas, tapas na cara, puxões de cabelo; com cadeiras, paus, pedras e tudo o que estava à vista.
         Não tendo mais disponíveis os instrumentos convencionais de tortura, a mulher recorreu a um tamanco. Com um tamanco! Pelo menos se fosse com chibata, chicote, fios elétricos, sacos plásticos, pau-de-arara ou algo do gênero, mas com um tamanco era demais! Tenha santa paciência! Após as bordoadas, tamancadas e investidas de toda sorte, a minha impiedosa gladiadora desferiu-me um coice tão violento no local onde o sol não bate e nós, homens – seres inferiores – costumamos coçar quando estamos desocupados,  sem fazer nada, que, ao passar a mão, não senti a presença física de dois dos indicadores da masculinidade. Senti foi uma ânsia de vômito, com dois órgãos esféricos ou ovais em minha boca, fazendo o êxodo do local onde são conhecidos pela grande união entre si, impulsionados por um coice violento desferido por uma mulher não menos violenta. Tinha sabor de chiclete, mas grudava nos dentes.
         Perdi a pouquíssima fé que me restava. Não acredito mais em santo algum. Ah, e por falar em “santo”, eu só acredito no meu “santo” amigo Zé Queiroga. Aquele sim, aquele é que é um santo homem! Foi ele que enfrentou a minha algoz, isto depois que eu a deixei exausta, extenuada de tanto me bater, após uma surra no capricho à lá tamancadas e outros artifícios. Meu santo amigo Zé Queiroga se compadeceu do meu estado digno de compaixão e misericórdia e me puxou da zona de ataque daquela mulher furiosa e me levou  para o Hospital Distrital de Pombal para fazer o exame cadavérico, digo, o exame de corpo delito.
         Depois que a ortopedista constatou incontáveis fraturas em quase todos os ossos da minha carcaça, pensando ela que eu tinha sido atropelado por um trator – ou atropelada, pois no estado em que eu me encontrava, era quase impossível, até mesmo para uma excelente especialista como a que me atendera, se era um ser inferior, homem, ou um ser superior, mulher. A médica se surpreendeu ao não consignar a minha morte cerebral. Apenas entrei em coma por alguns meses e, quando retornei, pedi à doutora para que não espalhasse para ninguém o ocorrido, pois eu não pretendo ser conhecido pelos meus leitores como o homem, digo, a pessoa que sofreu uma surra no capricho à lá tamancadas e outros artifícios de uma mulher sanguinária. Eu queria ser conhecido pela minha capacidade de raciocínio, pois nem as esmagadoras fraturas danificaram o meu cérebro, não completamente, pois ainda me restou cerca de 10% da minha massa cinzenta.
         Afinal de contas, plagiando o adágio popular que reza: “Aonde vai dinheiro e peia, só não resolve o problema se for pouco”, hoje, a mulher do tamanco e eu somos grandes amigos. Eu até já consigo respirar quase normal, apesar dos meus pulmões terem sido perfurados pelo salto do tamanco da mulher, agora minha melhor amiga. Entretanto, fiquei com um trauma tão grande que toda vez que vejo ovos mexidos e mulher usando tamanco, se o meu sangue não congelar e as minhas pernas me obedecerem, eu corro feito louco. Por falar nisso, eu já fui parar no manicômio por três vezes. Não fiquei lá porque descobri que manicômio é lugar de louco e não de quem usa apenas 10% ou os 10% restantes de sua capacidade de raciocínio que, pela má interpretação de um texto, ou textículo, acabou sofrendo uma pequena surra à lá tamancadas e outros artifícios. Eu nem morri.

Autor: Abel Alves
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