As formalidades, boa
educação, conduta social exemplar, cavalheirismo, respeito à vida devem ser
observadas, também perante às altas autoridades, em consideração ao esforço que
cada ser humano empreende para trilhar um caminho e chegar ao seu objetivo,
resguardadas as exceções.
Destarte,
há duas formas distintas de um poeta, condutor do veículo dos sentimentos,
saber se o seu trabalho que o caracteriza como tal está causando impacto,
fazendo sucesso, despertando emoções: se ele provocar as lágrimas do seu
interlocutor e se ele apanhar em plena praça pública, quase chegando a ser
linchado. No meu caso, autor de um insulto à verdadeira arte que se expressa
pela palavra escrita e oral que está mais para uma gonorréia literária do que
para uma poesia, chamado de “O Gângster de Sotaina”, foi
em plena praça pública da minha terra natal, Paulista, no dia 26 de agosto de
2000, que atingi o auge do sucesso, digo, quase fui linchado, vítima de uma
surra à lá tamancadas e outros artifícios.
Como
dizem por aí, que “em mulher não se bate nem com uma flor”, eu não fugi à
regra. Mas, não fugi, em primeiro lugar, em respeito ao cargo que ela exercia:
ela era vice-prefeita da cidade de Paulista; em segundo lugar, à época, ela deveria
está com o dobro do meu tamanho, obstruindo a minha rota de fuga e,
principalmente, em terceiro lugar, as minhas covardes pernas não me obedeceram:
começaram a tremular quando senti uma coisa quente escorrendo até o calcanhar,
e eu não consegui correr para fugir do ângulo de visão daquela mulher sedenta
por me quebrar no cacete.
Eu
não era muito “católico” e sim “protestante”, mas, naquela hora, pedi proteção
a todos os santos existentes no imaginário humano e ainda inventei alguns para
que entendessem o meu pedido de socorro. De nada adiantou. Sem voz e sem
palavras persuasivas, ainda tentei dialogar por meio de gestos e mímicas, mas a
minha alma quis sair pela boca e a mulher não queria papo. A mulher trocou o
papo pelo sopapo e, nas preliminares, ela me deu uma patada em cima da orelha
esquerda que, além de ter-me deixado com um problema crônico de audição, também
me afrouxou todos os dentes da boca de uma só vez.
Em
meio aquele massacre cruento-poético, ainda meio grogue da primeira investida, consegui
pronunciar três palavras convictas: “Eu vou morrer”! A mulher me atacava pela
direita, pela esquerda, por baixo, por cima; com chutes, patadas, socos,
pontapés, unhadas, tapas na cara, puxões de cabelo; com cadeiras, paus, pedras
e tudo o que estava à vista.
Não
tendo mais disponíveis os instrumentos convencionais de tortura, a mulher
recorreu a um tamanco. Com um tamanco! Pelo menos se fosse com chibata,
chicote, fios elétricos, sacos plásticos, pau-de-arara ou algo do gênero, mas
com um tamanco era demais! Tenha santa paciência! Após as bordoadas, tamancadas
e investidas de toda sorte, a minha impiedosa gladiadora desferiu-me um coice
tão violento no local onde o sol não bate e nós, homens – seres inferiores –
costumamos coçar quando estamos desocupados,
sem fazer nada, que, ao passar a mão, não senti a presença física de
dois dos indicadores da masculinidade. Senti foi uma ânsia de vômito, com dois
órgãos esféricos ou ovais em minha boca, fazendo o êxodo do local onde são
conhecidos pela grande união entre si, impulsionados por um coice violento
desferido por uma mulher não menos violenta. Tinha sabor de chiclete, mas
grudava nos dentes.
Perdi
a pouquíssima fé que me restava. Não acredito mais em santo algum. Ah, e por
falar em “santo”, eu só acredito no meu “santo” amigo Zé Queiroga. Aquele sim,
aquele é que é um santo homem! Foi ele que enfrentou a minha algoz, isto depois
que eu a deixei exausta, extenuada de tanto me bater, após uma surra no
capricho à lá tamancadas e outros artifícios. Meu santo amigo Zé Queiroga se
compadeceu do meu estado digno de compaixão e misericórdia e me puxou da zona
de ataque daquela mulher furiosa e me levou
para o Hospital Distrital de Pombal para fazer o exame cadavérico, digo,
o exame de corpo delito.
Depois
que a ortopedista constatou incontáveis fraturas em quase todos os ossos da
minha carcaça, pensando ela que eu tinha sido atropelado por um trator – ou
atropelada, pois no estado em que eu me encontrava, era quase impossível, até
mesmo para uma excelente especialista como a que me atendera, se era um ser
inferior, homem, ou um ser superior, mulher. A médica se surpreendeu ao não
consignar a minha morte cerebral. Apenas entrei em coma por alguns meses e,
quando retornei, pedi à doutora para que não espalhasse para ninguém o
ocorrido, pois eu não pretendo ser conhecido pelos meus leitores como o homem,
digo, a pessoa que sofreu uma surra no capricho à lá tamancadas e outros
artifícios de uma mulher sanguinária. Eu queria ser conhecido pela minha
capacidade de raciocínio, pois nem as esmagadoras fraturas danificaram o meu
cérebro, não completamente, pois ainda me restou cerca de 10% da minha massa
cinzenta.
Afinal
de contas, plagiando o adágio popular que reza: “Aonde vai dinheiro e peia, só
não resolve o problema se for pouco”, hoje, a mulher do tamanco e eu somos
grandes amigos. Eu até já consigo respirar quase normal, apesar dos meus
pulmões terem sido perfurados pelo salto do tamanco da mulher, agora minha
melhor amiga. Entretanto, fiquei com um trauma tão grande que toda vez que vejo
ovos mexidos e mulher usando tamanco, se o meu sangue não congelar e as minhas
pernas me obedecerem, eu corro feito louco. Por falar nisso, eu já fui parar no
manicômio por três vezes. Não fiquei lá porque descobri que manicômio é lugar
de louco e não de quem usa apenas 10% ou os 10% restantes de sua capacidade de
raciocínio que, pela má interpretação de um texto, ou textículo, acabou
sofrendo uma pequena surra à lá tamancadas e outros artifícios. Eu nem morri.
Autor:
Abel Alves
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abelmetacritica@hotmail.com
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