sexta-feira, 29 de junho de 2012

A BALA


Todos os dias, de manhã bem cedo,
Eu ouço “palavras redentoras”
Proferidas por metralhadoras,
Fuzis, granadas e torpedos.

E fico morrendo de medo
De perder meu “sopro de vida”
Por causa de uma bala perdida
Revelando-me seus segredos.

O direito à vida, a lei me nega.
Já não existe uma esperança!
Se eu correr, a bala me alcança
Se eu ficar, a bala me pega.

Dizem-me que a “justiça é cega”
Por não “ver” esta miséria.
Eu sou “um nada de matéria”
Que só a bala não renega.

A hostil inópia vem me dizer
Que a morte é o melhor conforto
Para quem já está morto
Sem ter razões para viver

E se um dia alguém perceber
Estas injustiças sociais
Então será tarde demais
Para voltar e se arrepender.

Só as inócuas valas decompositoras
Na lúgubre favela empobrecida
Esperam-me a carcaça abatida
Pelas mecenas balas destruidoras

Formando-se uma eterna aliança
Entre o “ser” e a meiga bactéria,
Tornando-se a decisão mais séria
De nunca voltar a ser criança.

A integrar meros dejetos carnais,
Eu almejo ser um aborto!
A ter sobrevida, no desconforto,
Eu aspiro não nascer mais!

Autor: Abel Alves
Celular: (83) 98023208
E-mail: abelmetacritica@hotmail.com
Blog: http://abelmetacritica.blogspot.com

Nenhum comentário: