O crack é
uma substância psicoativa euforizante, estimulante, preparada à base da mistura
da pasta de cocaína com bicarbonato de sódio. Para a obtenção das pedras de
crack também são misturadas à cocaína diversas substâncias tóxicas como
gasolina, querosene e até fluido de bateria. A pedra de crack não é solúvel em
água e, por isto, não pode ser injetada na veia. Ela é fumada em cachimbos,
tubos de PVC ou aquecida em latinhas de refrigerante, cerveja ou similares.
Após ser aquecida em temperatura média de 95°C, passa do estado sólido ao
estado de vapor. Quando queimada, produz o ruído que lhe deu o nome. Pode ser
misturada com maconha e fumada junta.
Ao ser
fumado, o crack é absorvido pelo pulmão e chega ao cérebro em menos de 10
segundos. Após a “pipada” (ato de inalar a fumaça), o usuário sente grande
prazer, intensa euforia, sensação de poder, excitação, hiperatividade, insônia,
perda de sensação de cansaço e falta de apetite. O uso passa a ser compulsivo,
pois o efeito dura apenas de 5 a 10 minutos e a “fissura” (vontade) em usar
novamente a droga torna-se incontrolável. Segue-se repentina e profunda
depressão e surge desejo intenso de uso repentino e imediato. Assim, serão
usadas muitas pedras em seguida para manter o efeito estimulante.
Por ser
fumado, o crack se expande pela grande área da superfície do pulmão e é
absorvido em grande parte pela circulação sanguínea. O efeito é rápido e
potente; porém, passa depressa, o que leva ao consumo desenfreado.
As consequências
físicas do uso do crack em médio e longo prazo são danos ao pulmão associados a
fortes dores no peito, asma e bronquite; aumento da temperatura corporal com
risco de causar acidente vascular cerebral; destruição de células cerebrais,
neurônios, e degeneração muscular, o que confere aquela aparência esquelética
ao usuário frequente, inibição da fome e insônia severa.
Além
disso, os materiais utilizados para a confecção dos cachimbos são, muitas
vezes, coletados na rua ou no lixo e apresentam iminente risco de contaminação
infecciosa, gerando potencial elevação dos níveis de alumínio no sangue, de
modo a aumentar os danos no sistema nervoso central. Também são comuns
queimaduras labiais, no nariz e nos dedos dos usuários.
Já as
consequências psicológicas do uso do crack em médio e longo prazo são, dentre
outras, fácil dependência após uso inicial, grande desconforto durante
abstinência gerando depressão, ansiedade e agressividade contra terceiros. Há a
diminuição do interesse sexual. Como a necessidade não tem lei, a necessidade
do uso frequente acarreta delitos, para a obtenção de dinheiro, venda de bens
pessoais e familiares, e até prostituição da forma mais degradante como, por
exemplo, em muitas vezes, usuários se disponibilizam à prática do sexo oral, em
terceiros, em troca de pedras de crack, tudo para sustentar o vício. A
promiscuidade leva a grave risco de se contrair AIDS e outras DSTs (Doenças
Sexualmente Transmissíveis). O usuário apresenta, com frequência, atitudes
bizarras devido ao aparecimento de paranoia (“noia”), colocando em risco a
própria vida e a dos outros.
As
consequências sociais do uso do crack em médio e longo prazo são, dentre
outras, o abandono do trabalho, dos estudos ou de qualquer outro interesse que
não seja a droga, o crack; deterioração das relações familiares, com violência
doméstica e frequente abandono do lar; grande possibilidade de envolvimento com
criminalidade. A ruptura ou a fragilização das redes de relação social,
familiar e de trabalho normalmente leva ao aumento da estigmatização do
usuário, agravando sua exclusão social. Também é comum que usuários de crack
matem e sejam mortos em função do vício. Uma vida humana ao preço de uma pedra
de crack.
Por muito
tempo, a dependência química do uso do crack foi considerada uma doença social
masculina; aspectos sociais e culturais propiciavam mais acesso masculino às
drogas e levavam a crer que eles seriam mais suscetíveis. No entanto,
atualmente, o consumo de substâncias ilícitas e álcool por mulheres, homens
adultos e adolescentes é indiscriminado. No caso do cigarro e do crack,
implicam-se no uso até mesmo de crianças de várias idades.
Também,
acreditava-se anteriormente que seu uso era mais intenso nas classes de baixa
renda, porém, hoje, a utilização do crack já ocorre em todas as classes
sociais. As populações mais vulneráveis, entre elas, moradores de rua, crianças
e adolescentes constituem importante grupo de risco. Destarte, os sinais para
reconhecimento do uso de crack são:
Ø
Abandono de interesses sociais não ligados ao consumo e compra de
drogas;
Ø
Mudança de companhias e de amigos não ligados ao consumo de
entorpecentes e drogas afins;
Ø
Visível mudança física, perda de pelos, pele ressecada,
envelhecimento precoce;
Ø
Comportamento deprimido, cansaço, descuido na aparência, irritação
e agressividade com terceiros por palavras e atitudes;
Ø
Dificuldades ou abandono escolar, perda de interesse pelo trabalho
ou hábitos anteriores ao uso do crack;
Ø
Mudança de hábitos alimentares, falta de apetite, emagrecimento e
insônia severa;
Ø
Atitudes suspeitas, como telefonar para pessoas desconhecidas dos
familiares com frequência e “sumir de casa” constantemente sem avisar;
Ø
Extorsão de dinheiro da família com ferocidade;
Ø
Mentiras frequentes, recusa em explicar mudança de hábitos ou
comportamentos inadequados.
O uso do
crack pode ser associado ao uso de outras drogas. É comum que usuários de crack
precisem de outras substâncias psicoativas no período das chamadas “brisas”, ou
seja, no período imediatamente após o uso do crack. Nesse momento, acabando o
efeito estimulante, há grande mal-estar, podendo ser usados álcool, maconha ou
outras substâncias para redução dessa péssima sensação.
O
sofrimento psíquico decorrente do uso do crack induz o usuário a múltiplas
dependências.
Em
consonância com a tragedia pessoal de cada um, há atitudes que podem agravar
ainda mais a situação do usuário de crack como, por exemplo, no início do uso
da droga, o indivíduo ilude-se, imaginando que “com ele vai ser diferente”. Que
“não vai se tornar um viciado”. Mesmo quando progride para a dependência,
continua acreditando que “para quando quiser” e não percebe que, na realidade,
não quer parar nunca. Pelo contrário, quer sempre mais e mais mergulhar no
abismo sem fundo do crack.
A atitude
de negação da doença por parte da família também é muito nociva. A família não
deve sustentar mentiras para si mesma, “amenizando” a gravidade da situação e
acreditando que o usuário deixará de usar o crack com o tempo ou sem ajuda de
terceiros.
Pessoas
que são dependentes de álcool ou tabaco, apesar de serem drogas lícitas, devem
entender que, para criticar o outro por se tornar dependente do crack, precisa
antes corrigir em si mesmas estes hábitos, pois, do contrário, não têm alcance,
como exemplo a ser seguido ou ouvido.
As atitudes
que podem ajudar, por exemplo, aos pais e às demais pessoas que tenham alguém
querido sob suspeita de uso de crack, principalmente, em faixa de idade
vulnerável, como crianças e adolescentes, é procurar manter bom relacionamento
com o suposto viciado que garanta abertura para o diálogo. O melhor é saber de
sua vida, com quem anda acompanhado, os lugares que frequenta, seu desempenho
no trabalho ou na escola. É profícuo observar se ocorrem mudanças bruscas no
comportamento. A manutenção do vínculo afetivo é muito importante tanto para a
detecção do problema quanto para a
solução no tratamento. É necessário que haja atenção quanto ao ambiente escolar
e à vizinhança.
Também é
oportuno orientar seu filho ou ente querido a afastar-se de pontos de venda de
drogas e dos frequentadores desses locais. Adolescentes comumente apresentam
comportamento destemido e se sentem desafiados a aproximarem-se do perigo para
terem a ilusão de que estão acima do bem e do mal. Em Paulista, há dois pontos
de venda e de consumo do crack: Conjunto Antônio Mariz e Rio Piranhas.
Como
adulto, é salutar deixar claro que sua autoridade é fruto não apenas de amor,
mas de capacidade de entender o mundo atual e saber diferenciar o que destrói,
em oposição à sedução do traficante. Os agentes do tráfico procuram ser
simpáticos e amistosos para com sua população-alvo. Ensinam gírias próprias e
não destoam da imagem da moda seguida pelo público visado por eles.
Quanto às
possibilidades de tratamento, inicialmente, é necessário fazer uma avaliação do
paciente para saber sobre o efetivo consumo de crack. A partir deste perfil 1,
ele deverá ser encaminhado ao ambiente e ao modelo de atenção adequado. Deve
ser verificado o grau de dependência e o uso nocivo, assim como a intenção
voluntária de busca de ajuda para o tratamento.
É preciso
entender qual o padrão do consumo, que pode oscilar muito, e indicar a
gravidade do quadro em relação a cada usuário de crack. Destarte, são
caracterizados três modos de consumo de crack:
Ø
Baixo risco: com raros e leves problemas. Isto é excepcional entre
usuários de crack, praticamente inexistente;
Ø
Uso nocivo ou abuso: que combina baixo consumo com problemas
frequentes (observável em usuários recentes);
Ø
Dependência: alto consumo com graves problemas (é o perfil 1 do usuário
que busca serviço especializado).
O usuário
também deve ter a sua disposição para o tratamento avaliada. É o que se chama
classificar o “estágio motivacional”, que irá definir as estratégias e
atividades para promoção do tratamento individual.
Dentro
dos princípios para investigação motivacional, o usuário não tem consciência de
que precisa mudar. É resistente à abordagem e à orientação.
Ele
reconhece o problema, aceita a abordagem sobre mudança, mas continua
“valorizando” e usando droga. Também reconhece o problema, percebe que não
consegue resolver sozinho e pede ajuda. Essa fase pode ser passageira, daí ser
necessário pronto atendimento quando solicitado pelo indivíduo.
O usuário
interrompe o consumo, inicia tratamento voluntário e precisa ser acompanhado
por longo tempo, mesmo melhorando, pois ainda corre grande risco de recaída,
mantendo-se ambivalente diante da droga.
Na fase
da manutenção, o usuário está em abstinência, com risco de recaída, ainda
possível pela ambivalência de sua relação com a droga e fatores de risco
próprios de cada caso. Pensa nela com frequência. Cuida-se preventivamente do
risco de recaída.
Havendo o
retorno ao consumo, após período longo de abstinência, é importante notar que
recair não é voltar ao zero. É necessária essa percepção, para retornar a
recuperação, afim de que a culpa e a desesperança não destruam o novo empenho
de melhora.
Quanto
mais pronto e motivado o individuo, mais objetiva será a proposta terapêutica,
enquanto a situação contrária implicará mais negociação e tempo. Devem ser
tratados também problemas psiquiátricos paralelos ao uso do crack. O uso
medicamentoso é indicado para auxiliar na redução da vontade do uso da
substância (supressão da “fissura”), avaliar os sintomas da abstinência e
diminuir ou mesmo inibir o comportamento de busca. O tratamento
multidisciplinar é a melhor forma de intervenção nestes casos e permite saciar
as amplas necessidades, principalmente, do usuário que precisará de abordagens
terapêuticas por longo tempo.
A
recuperação depende fundamentalmente do apoio familiar, da comunidade e da
persistência da pessoa. Quanto mais precoce a busca de ajuda, mais provável o
sucesso do tratamento. Este é penoso, com grande sofrimento físico e
psicológico, além de, dependendo do caso, significativa possibilidade de
recaídas.
Mesmo o
indivíduo abstinente pensa com frequência na droga. É preciso tomar isso em
consideração, para não desanimar e ter coragem de continuar.
A ajuda
profissional é indispensável, porém, amor, compreensão e paciência não são
apelos demagógicos; mas, sim, estratégias concretas de ajuda, que qualquer
decisão pode proporcionar ao seu semelhante em risco. Manter-se bem informado e
ter boa vontade são atitudes que podem contribuir muito para o tratamento dos
dependentes químicos.
Não há
tratamento único para o crack. O poder público, o município, deve ter políticas
na área da saúde para prestar atenção integral ao usuário de drogas e às
famílias. A detecção precoce e imediata intervenção são importantes aliados no
enfrentamento da questão. Para qualquer atendimento, deve-se procurar o CAPSad
– Centro de Atenção Psicossocial – Álcool e Drogas ou o Programa Saúde da
Família no município do cidadão usuário de drogas.
Neste
ínterim, faz-se necessário alertar acerca da droga de uma droga ainda mais devastadora
que a droga do crack: a merla, também conhecida como mela, mel ou melado. Preparada
de forma diversa do crack, apresenta-se sob a forma de uma base e também é
fumada. Utilizada predominantemente no Distrito Federal, mas com registros em
outros estados e municípios do país, a merla é extremamente tóxica e acarreta
sérias complicações médicas.
Em suma,
é extremamente importante alertar a população de que o problema supracitado já
se instalou em Paulista. O Poder Executivo, o Poder Legislativo, o Poder
Judiciário, o Ministério Público e o Conselho Tutelar deste município devem
adotar medidas urgentes acerca do problema sob pena de serem responsabilizados
de acordo com o que reza o Artigo 5°, Inciso XLIII da Constituição Federal: “A lei
considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática
da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e
os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem”.
A vontade de viver é
uma força poderosa. Destarte, as nossas autoridades, que têm conhecimento de
tudo o que está acontecendo em Paulista concernente às drogas, não devem fechar
os olhos, tapar os ouvidos e cruzar os braços enquanto que os traficantes
“enriquecem” à custa das lágrimas de uma mãe que perde os seu filho para as
drogas. Em muitas vezes, o valor de uma dessas vidas humanas não passa de R$
10,00 (Dez reais), o valor de uma pedra de crack.
Autor: Abel Alves
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